O Absolutismo na Inglaterra: Da Ascensão à Queda
O absolutismo é um sistema político em que um monarca detém poderes absolutos sobre o Estado e seus habitantes. Na Inglaterra, o absolutismo floresceu de maneira complexa, influenciada por diversos fatores econômicos, sociais e religiosos, e culminou em eventos históricos significativos que moldaram o destino do país. Este texto explora a ascensão, o apogeu e a queda do absolutismo na Inglaterra, examinando figuras-chave, políticas e conflitos que definiram esse período.
Ascensão do Absolutismo na Inglaterra
A Dinastia Tudor
A ascensão do absolutismo na Inglaterra está intimamente ligada à Dinastia Tudor, que governou de 1485 a 1603. Henrique VII, o primeiro monarca Tudor, consolidou seu poder após vencer a Batalha de Bosworth Field, encerrando a Guerra das Rosas. Henrique VII fortaleceu a monarquia através de medidas administrativas e financeiras, centralizando o poder e reduzindo a influência da nobreza.
Henrique VIII, filho de Henrique VII, é uma figura central no desenvolvimento do absolutismo inglês. Seu rompimento com a Igreja Católica e a criação da Igreja Anglicana, com ele como chefe supremo, marcaram uma importante concentração de poder nas mãos do monarca. Esse ato não apenas permitiu que Henrique VIII controlasse as questões religiosas, mas também que confiscasse as terras da Igreja, aumentando a riqueza e o poder da Coroa.
Isabel I
O reinado de Isabel I (1558-1603) é frequentemente visto como o auge do absolutismo Tudor. Isabel consolidou o poder real e navegou habilmente pelos desafios políticos e religiosos de seu tempo. Ela manteve um controle firme sobre o Parlamento e utilizou a propaganda para promover uma imagem de unidade e prosperidade nacional. A Armada Espanhola de 1588 e a subsequente vitória inglesa consolidaram a posição de Isabel como uma monarca poderosa e centralizadora.
O Apogeu do Absolutismo
Dinastia Stuart
Com a morte de Isabel I sem herdeiros, o trono passou para Jaime VI da Escócia, que se tornou Jaime I da Inglaterra, inaugurando a Dinastia Stuart. Jaime I (1603-1625) era um defensor convicto do direito divino dos reis, a crença de que os monarcas eram escolhidos por Deus e, portanto, estavam acima de qualquer controle terrenal. Jaime tentou governar sem a interferência do Parlamento, mas enfrentou resistência significativa.
Carlos I, filho de Jaime I, continuou a política de seu pai de governar sem o Parlamento, levando a um conflito direto. Carlos I dissolveu o Parlamento várias vezes e governou sozinho de 1629 a 1640, um período conhecido como “A Personal Rule”. Durante esse tempo, ele impôs impostos e políticas impopulares, como o Ship Money, sem a aprovação parlamentar, aumentando a tensão entre a monarquia e o Parlamento.
Guerra Civil Inglesa
A insatisfação com o governo de Carlos I culminou na Guerra Civil Inglesa (1642-1651), um conflito entre os Royalistas, que apoiavam o rei, e os Parlamentaristas, que buscavam limitar seu poder. Liderados por Oliver Cromwell, os Parlamentaristas eventualmente derrotaram as forças do rei. Carlos I foi capturado, julgado por traição e executado em 1649, um evento sem precedentes que marcou o fim do absolutismo real na Inglaterra.
A Queda do Absolutismo
Commonwealth e Protetorado
Após a execução de Carlos I, a Inglaterra foi declarada uma república sob o nome de Commonwealth, governada por um Conselho de Estado. Oliver Cromwell tornou-se Lorde Protetor em 1653, exercendo poderes quase ditatoriais, embora não fosse um monarca. Seu governo, conhecido como o Protetorado, enfrentou várias dificuldades, incluindo resistência interna e conflitos externos. Após a morte de Cromwell em 1658, seu filho, Richard Cromwell, assumiu o cargo, mas não conseguiu manter o controle.
Restauração
Em 1660, a monarquia foi restaurada com a coroação de Carlos II, filho de Carlos I. O período de restauração trouxe uma aparente volta à normalidade, mas as tensões entre a monarquia e o Parlamento continuaram. Carlos II, embora mais diplomático que seu pai, ainda enfrentou desafios significativos em sua tentativa de governar como um monarca absoluto.
Jaime II e a Revolução Gloriosa
Jaime II, irmão de Carlos II, ascendeu ao trono em 1685. Jaime era um católico devoto, o que causou grande preocupação em um país predominantemente protestante. Suas tentativas de impor políticas pró-católicas e governar sem o Parlamento exacerbaram essas preocupações. Em 1688, um grupo de líderes protestantes convidou Guilherme de Orange, marido da filha protestante de Jaime, Maria, para invadir a Inglaterra e assumir o trono.
Guilherme de Orange aceitou o convite, e sua invasão, conhecida como a Revolução Gloriosa, levou à fuga de Jaime II para a França. Em 1689, Guilherme e Maria foram coroados monarcas conjuntos, mas sob condições estabelecidas pelo Parlamento, marcando o início de uma monarquia constitucional.
Consequências do Absolutismo Inglês
Declaração de Direitos de 1689
A Declaração de Direitos de 1689 foi um documento fundamental que limitou os poderes da monarquia e estabeleceu os direitos do Parlamento e dos cidadãos. Entre outras coisas, a Declaração proibia o monarca de suspender leis, impor impostos sem o consentimento do Parlamento e manter um exército permanente em tempos de paz sem a aprovação parlamentar. Este documento marcou a transição da Inglaterra para uma monarquia constitucional, onde o poder do monarca era limitado e balanceado por um Parlamento representativo.
Impacto na Política e na Sociedade
A transição do absolutismo para a monarquia constitucional teve um impacto profundo na política e na sociedade inglesa. O Parlamento emergiu como a principal autoridade governamental, com o poder de legislar e controlar as finanças do reino. A monarquia, embora ainda uma instituição importante, tornou-se largamente cerimonial, com seus poderes reais severamente limitados.
Essa mudança também teve implicações sociais significativas. O fortalecimento do Parlamento significou uma maior representação dos interesses dos diferentes grupos sociais, embora o sufrágio ainda fosse limitado a uma pequena parcela da população. A Declaração de Direitos e outras reformas ajudaram a estabelecer princípios de governança que influenciariam futuras democracias ao redor do mundo.
Legado do Absolutismo Inglês
O legado do absolutismo na Inglaterra é multifacetado. Por um lado, o período de governo absoluto dos Tudors e Stuarts ajudou a centralizar o poder e estabelecer um Estado mais coeso e eficiente. Por outro lado, as tensões e conflitos gerados pelo absolutismo também levaram a uma série de guerras civis e revoluções que transformaram a paisagem política e social do país.
A Revolução Gloriosa e a subsequente Declaração de Direitos estabeleceram um precedente crucial para a limitação do poder monárquico e a promoção de direitos individuais e parlamentares. Essas mudanças pavimentaram o caminho para o desenvolvimento de uma sociedade mais democrática e serviram de inspiração para movimentos similares em outros países.
Conclusão
O absolutismo na Inglaterra foi um período de profundas transformações políticas e sociais. Desde a consolidação do poder pelos Tudors até os conflitos e revoluções que culminaram na queda dos Stuarts, o absolutismo deixou uma marca indelével na história inglesa. A transição para uma monarquia constitucional e o fortalecimento do Parlamento representaram uma mudança paradigmática na governança, cujos efeitos ressoam até os dias de hoje.
A história do absolutismo inglês é, em última análise, uma história de poder e resistência, de governança e reforma. Ela destaca a complexidade das relações entre governantes e governados e a contínua luta por um equilíbrio justo entre autoridade e liberdade.